Paulo Otávio: vida no Catar, carrasco de Jesus e amizade com atacante do Flamengo

Paulo Otávio não é um jogador muito conhecido no Brasil. Fora do país desde 2016, ele atua no Al Sadd, do Catar, e teve uma semana de resultados importantes, com um empate sobre o Al Hilal e vitória em cima do Al Nassr, clubes de Jorge Jesus e Cristiano Ronaldo, respectivamente, com direito a gol importante na classificação para as oitavas de final da Liga dos Campeões da Ásia.

Em um dos melhores momentos na carreira, Paulo Otávio falou com o Transfermarkt sobre ser carrasco de Jorge Jesus, com o gol do empate por 1 a 1, da rivalidade com o Al Hilal, forte investimento no futebol asiático e ainda revelou bastidores da amizade com Gonzalo Plata, jogador que foi contratado pelo Flamengo em junho por 3,8 milhões de euros.

“O (Jorge) Jesus deve ter ficado um pouco triste pelo resultado, mas feliz também porque foi um grande jogo de ambas as equipes. Mas pra gente foi melhor e eu fiz o meu papel. A bola veio e eu estava pronto, preparado, para conseguir marcar contra um grande clube em um jogo de expressão”, disse Paulo Otávio.

Por conta de uma lesão no tornozelo, o lateral era dúvida para o jogo, mas ficou à disposição e entrou a 23 minutos do fim para marcar o gol que garantiu o empate do Al Sadd por 1 a 1 sobre o Al Hilal de Jorge Jesus.

“A Champions League é Champions League em todos os lugares do mundo. Claro que a europeia tem mais glamour que a asiática, mas a daqui tem peso também. Todo o continente assiste. E eu não tinha expectativa nenhuma de jogar. Eu estava há cinco semanas fora e o jogo era importantíssimo para nós. Eu não sabia disso, fiquei sabendo aqui que o Al Hilal é o grande rival do Al Sadd. É o maior clássico do continente. Não é só futebol. É política também”, contou o jogador.

“Muita gente confunde o futebol do Catar com o da Arábia Saudita. Mas é bem diferente. O investimento dos clubes é desproporcional.  Nós também temos jogadores caros, mas nem se compara as folhas salariais. Mas nosso time é muito competitivo", completou.

Aos 30 anos de idade, Paulo Otávio vive um dos melhores momentos na carreira. A base no Brasil foi no PSTC, clube de Fernandinho, Kleberson, Jadson e Dagoberto, mas a estreia no profissional foi com a camisa do Athletico Paranaense em 2013. Na sequência, ele enfileirou uma série de clubes como Coritiba, Santo André, Paysandu e Tombense até se transferir para o LASK, da Áustria, em 2016.

A agem no futebol austríaco durou apenas um ano, com a proposta do Ingolstadt, e dois anos depois foi para o Wolfsburg, ambos da Alemanha. No novo país, Paulo Otávio teve de se adaptar e aprender a falar a língua local para poder jogar.

“Eu aprendi a falar inglês na Áustria e achei que o inglês seria suficiente na Alemanha. Mas ai veio o treinador Maik Walpurgis (no Ingolstadt), no meu segundo dia de clube. Eu estava falando em inglês com um colega e ele mandou eu falar alemão. Eu disse que eu não falava alemão e ele mandou eu fazer aula. No dia seguinte eu comecei a fazer duas aulas de alemão por semana por um ano. Isso me ajudou demais porque é bom você entender o que as pessoas estão falando no treino, no vestiário. Se alguém estiver falando mal de mim, eu vou entender”, explicou o lateral.

A língua é uma dificuldade para os brasileiros, mas não é a única. Diferente de outras ligas europeias, o Campeonato Alemão conta com poucos brasileiros. Enquanto a Premier League conta com 33 e a LaLiga com 14, boa parte deles com agem pela Seleção, os brasileiros na Bundesliga são apenas nove, com poucos nomes de grande expressão. O mais valioso é Yan Couto, com valor de mercado de 25 milhões de euros e que defende o Borussia Dortmund.

Com a experiência de quem ficou sete anos na Alemanha, Paulo Otávio explica que a mentalidade é o motivo para a baixa presença de brasileiros no país.

“A mentalidade faz a diferença. O clima é um problema. É frio o ano inteiro. Mas tem mais coisa. No Brasil, o jogador de futebol tem tudo na mão. Tudo  que você precisa, você tem alguém para fazer. Na Alemanha, você precisa se virar. Quando você chega no clube, você recebe três opções de casa. Se você não gostar de nenhuma, você tem de procurar por sua conta. E depois tem contrato, tudo em alemão. E tem também o treinamento. Se você não treinar bem durante a semana, você não joga o jogo. Se você não mostrar no dia a dia, você está fora. Não tem essa de jogador de jogo e que não é de treino. Tem muitos jogadores de talento que aram pela Alemanha que não renderam por isso. É a mentalidade do país e você precisa se adaptar a ela”.

“Isso ajudou o meu jogo. Hoje eu me preocupo mais em defender do que atacar. Eu preciso atacar, mas preciso atacar bem. Não adianta eu ir 20 vezes ao ataque e não fazer nada. É melhor eu ir cinco, mas com qualidade do que ir 20 vezes e deixar um buraco lá atrás, entende? Nisso a Alemanha me ensinou demais”, explicou.

Paulo Otávio viveu grandes momentos na Alemanha. Foram 77 jogos pelo Wofsburg, com 1 gol e 11 asistências, e 38 jogos pelo Ingolstadt, com dois es para gol. Foram seis anos no total, mas por pouco a trajetória não chegou ao fim logo no terceiro ano, quando chegou ao Wolfburg.

“O alemão é bem sincero. Eu lembro quando eu cheguei no Wolfsburg e eu não joguei os primeiros jogos. Eu reclamei com o diretor e pedi para ir embora. Ele disse que eu não sairia. Disse que alguma hora eu teria oportunidade. Se fosse em outro país, ele viria com mais calma, me bajularia. Mas o alemão é direto. Às vezes é bom porque você também precisa ouvir umas verdades. O alemão é frio no início, mas depois te acolhe”.

AMIZADE COM GONZALO PLATA, DO FLAMENGO

A agem pelo Wolfsburg chegou ao fim em julho de 2023, com o término do contrato. Apesar do interesse do clube alemão na renovação do vínculo, Paulo Otávio recebeu uma proposta do Al-Sadd, do Catar, e decidiu se transferir.

No novo clube, encontrou Gonzalo Plata, atualmente no Flamengo. O equatoriano foi contratado por 12 milhões de euros e ficou apenas um ano no clube até se transferir para o clube brasileiro em agosto.

Paulo Otávio revelou que conversa diariamente com Gonzalo Plata e que o equatoriano está em lua-de-mel com o Brasil.

“Eu converso com o Plata quase todos os dias. A gente conversa sempre, eu gosto muito dele. Ele está muito feliz no Flamengo. Contente pra caramba. Ele está realizando um sonho. Ele sempre quis jogar em um grande clube de expressão, um time de massa. O Flamengo é muito grande. Até falei com o Matheus Uribe, que estava com ele nas Eliminatórias. Eu perguntei como está o ‘meu menino?’. Ele disse que ele está voando. O Equador é dele”, revelou.

Contratado por 3,8 milhões de euros, Gonzalo Plata tem 15 jogos pelo Flamengo, com dois gols marcados e uma assistência. Um dos gols foi na final da Copa do Brasil contra o Atlético Mineiro, torneio em que o rubro-negro ficou com a taça de campeão.

“Esse gol foi muito importante para ele se consolidar e ganhar espaço. Ele tem jogado bem e conquistado o espaço dele, ganhando moral com o Filipe Luis. Ele está feliz demais. Eu até brinquei com ele para tomar cuidado porque o Rio de Janeiro não é para iniciante. Ele disse ‘está tudo bem, irmão. O Rio de Janeiro é meu’,”, contou aos risos Paulo Otávio sobre o amigo do Flamengo.

Sobre o bom momento de Gonzalo Plata no Flamengo, Paulo Otávio não vê como surpresa e aponta o Corinthians como outro clube em que o equatoriano teria sucesso imediato.

“Flamengo e Corinthians são times para loucos. O Plata é um cara desses. Ele é um cara que não escuta nada, que não se importa com pressão, críticas. Você pode falar mal que ele vai continuar igual. Se falar bem, ele não vai tirar o pé do chão. É sempre a mesma coisa. Ele é a cara do Corinthians, do Flamengo. Eu estou torcendo muito para que as coisas continuem acontecendo na vida dele porque ele merece”.

O contrato de Paulo Otávio se encerra em junho de 2026. O brasileiro ainda não definiu o futuro, mas deixou bem claro que tem o sonho de voltar a jogar o Campeonato Brasileiro antes de encerrar a carreira.

“O futuro é sempre duvidoso. Não consigo confirmar nada. Só consigo dizer que tenho mais um ano e meio de contrato. Mas eu tenho um grande sonho que é de jogar o Campeonato Brasileiro. Eu não joguei muito no Brasil. Acho que tenho só uns 20 jogos. Por isso eu tenho esse sonho de voltar a jogar no Brasil. Um dia vai acontecer. Espero que eu possa vestir a camisa de um clube grande, de estar perto da família, dos meus pais, da minha sogra. Fiquei muitos anos fora do Brasil, mas espero poder terminar com chave de ouro”, prometeu.